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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Dachau o Primeiro Campo de Concentração




O campo de concentração de Dachau ficou conhecido por ser o primeiro campo nazista, por exterminar cerca de 30 mil pessoas e pelo trabalho escravo exercido principalmente para obtenção de armamentos de guerra.
Em uma de minhas viagens para Monique na Alemanha, fui visitar o primeiro campo de concentração nazista chamado Dachau, construído em 1933, assim que Adolf Hitler tornou-se chanceler do Reich.  O campo de Dachau foi mantido como um memorial a pedidos dos próprios prisioneiros para que a história não seja esquecida ou diminuída com o tempo. A visita demora em torno de 3h e é gratuita.


Um Pouco da História


Nos primeiros anos do campo os prisioneiros de Dachau eram opositores políticos, comunistas, social-democratas, sindicalistas e outros. Após a aprovação das leis de Nuremberg que oficializou a discriminação racial, com a superioridade da raça ariana,  o campo passou a receber, testemunhas de Jeová, homossexuais e imigrantes.
Em outubro de 1933 Theodor Eicke, comandante do campo de concentração na época, emitiu um regulamento de disciplinas e punições, incluindo penas de mortes. Esse regulamento dava a ilusão de que os prisioneiros tinham regras a seguir, entretanto os homens da SS puniam qualquer um por nenhum motivo.
A partir de 1936 quando Heinrich Himmler torna-se chefe da Política Alemã, inicia-se construção de um sistema para campos de concentração em que o acampamento de Dachau é utilizado como modelo. Com a anexação da Áustria a Alemanha em 1938 são levados mais de 11 mil judeus alemães e austríacos ao campo. Em 1939 dá-se início a segunda guerra mundial com o ataque a Polônia, e o campo de Dachau passa a receber prisioneiros, da Polônia, Noruega, Bélgica, Holanda e França.
Ainda em 38/39 foi concluído o trabalho de construção e ampliação do edifício de manutenção do campo, prédios auxiliares com cozinha, lavanderia e chuveiros. 
No ano de 1940 foi implementado uma punição conhecida como “pole hanging”, acredita-se que foi a punição mais severa e perigosa de Dachau, que consistia em amarrar os braços do prisioneiro para trás numa viga no alto, e tirar a base de madeira dos pés, funcionando como um enforcamento. 
Em 1941 com o ataque a União Soviética, inicia-se tiroteios em massa de prisioneiros soviéticos. 
Em 1942 os antigos crematórios com apenas dois fornos não suportavam mais a demanda de corpos, assim é construído uma nova área com crematório e câmera de gás. Ali os prisioneiros entravam em uma sala de espera onde tiravam as roupas. As roupas eram levadas para esterilizar e imediatamente entregue a novos prisioneiros, após a espera as pessoas entravam em outra sala onde eram executados, os corpos eram empilhados na sala ao lado do crematório. O trabalho de empilhar corpos e queimar eram feitos pelos próprios prisioneiros.
O novo crematório construído em 1942.


Nesse mesmo ano inicia-se experiências médicas com prisioneiros, tais experiências eram feitas para saber os limites do corpo humano para aplicar em soldados, como testes de alta altitude, experimentos com malária, tuberculose, hipotermia e testes experimentais de remédios.  
Ainda em 1942 os guardas da SS assassinaram mais 4 mil prisioneiros de guerra soviéticos no campo de tiro, que ocupa 85.000 m², onde hoje a cidade de Dachau acomoda pessoas desabrigadas.
Em 1943 o trabalho forçado é intensificado para construção de mais de 150 acampamentos subordinados para indústria de armamento. Os prisioneiros eram forçados a diversos tipos de trabalho, como trabalhos manuais, construção de estradas, drenagem de pântanos ou em pedreiras. E esses trabalhos tornaram-se muito importante durante a guerra, para a produção de armamentos e de fábricas subterrâneas para produção de armas, aeronaves e foguetes.
Em 1944 em Dachau foram construídos mais de 30 sub-campos em que mais de 30 mil prisioneiros trabalhavam exclusivamente na fabricação de armamentos. Com a aproximação das tropas Russas na Alemanha, mais de 10 mil judeus são mortos através do trabalho. Carregamentos com milhares de prisioneiros de campos evacuados chegavam em Dachau, após dias de viagens, fracos ou beirando a morte, mais de 63 mil prisioneiros estavam no campo de Dachau em condições de vida precária, o que levou a uma epidemia de tifo.
Mais de 7 mil judeus são obrigados a marchar de Dachau a Tegernsee, durante a mencionada ‘marcha da morte’ os alemães atiravam em qualquer pessoa que não conseguisse mais andar.
A libertação chega ao campo em 29 de Abril de 1945 pelas tropas americanas. Ao chegarem no campo, encontraram mais de 30 vagões lotados de corpos já em decomposição e centenas de corpos empilhados ao lado do crematório. 
A libertação dos prisioneiros foi lenta, por causa da epidemia de febre tifoide, que para evitar uma epidemia europeia os prisioneiros foram vacinados e curados antes de serem liberados. De 1948 até 1960 o local foi utilizado como campo para refugiados, onde foi construído o Memorial que existe lá hoje. 

Um Pouco de Dachau Hoje


Os campos de concentração tinham o lema “ trabalho liberta” nos portões de entrada. Esse lema refletia a propaganda nazista de que era um “campo de trabalho e reeducação”.
O campo era rodeado por um muro com sete torres de guarda, cerca electrificada de arame farpado e uma trincheira. Que foi construído com o intuito de impossibilidade de fuga. Pode-se ver a escultura de Nandor Glid, o qual descreve que muitos prisioneiros tentaram fugir dali, e que muitos suicidios aconteceram dessa forma num ato de desespero. Essas palavras foram utilizadas por Nandor Glid, o que me faz refletir e imaginar, a situação, a opressão e a sensação da onipresença diária da morte e da humilhação.
Cerca e trincheira que rodeia todo o campo.

Hoje o antigo edifício de manutenção documenta a maior parte da exposição da história de Dachau. 
Logo na entrada o visitante é defrontado com uma grande sala dividida por mesas no centro, de um lado ficavam os prisioneiros recém-chegados, e do outro lado ficavam os guardas SS e prisioneiros que ali trabalhavam. Nesse quarto os recém-chegados entregavam tudo que tinham, documento, anéis, inclusive suas roupas, ficavam totalmente despidos de individualidade. Depois tomavam banho e tinham suas cabeças raspadas, eram desinfetados e vestidos com uniformes. Os uniformes menores que o tamanho do prisioneiro, os sapatos com tamanhos diferentes e meias furadas eram comuns. Por causa desse procedimento muitos prisioneiros que ali morreram não foram identificados.
Uniforme utilizado pelos prisioneiros.


Em frente ao edifício de manutenção está um pequeno muro com uma frase escrita em várias línguas, que diz, “ O exemplo dos exterminados aqui entre 1933 e 1945 por causa de sua luta de encontro ao nacional-socialismo une os vivos em sua defesa da paz e da liberdade e na reverência da dignidade humana”. O objetivo da frase é informar que esse  caminho feito pelos visitantes, é o mesmo caminho que os prisioneiros realizavam quando chegavam ao campo de concentração.
Monumento em reverência a dignidade humana.

No pátio dos quartéis os prisioneiros ficavam no “pátio da chamada”, onde tinham de permanecer todas as manhãs e noites para serem contados.
Os quartéis somavam um total de 32 dos quais 2 foram reconstruídos como quartos dos prisioneiros e o restante dos quartéis são somente marcas de cimento no chão enumerados, onde abrigava consultórios médicos, biblioteca, cantina, e oficina de produção para armamentos.
Banheiro coletivo em um dos cômodos do quartel 1.


Beliches dos prisioneiros.


Marcas onde um dia foram 30 quartéis nazistas.

No final da estrada dos quartéis foram construídos diversos monumentos religiosos em memória ao sofrimento de milhares de prisioneiros.



Primeiro crematório do campo.




Câmara de gás que comportava 150 pessoas.


Forno de Cremação.


Sala de espera para entrar na câmara de gás.


Para mais informações acesse o site original do Campo de Concentração de Dachau.

Fontes: http://www.kz-gedenkstaette-dachau.de/education.html
http://www.culturalxplorer.com/dachau-concentration-camp/
http://www.infoescola.com/historia/campo-de-concentracao-de-auschwitz/
Campo de concentração- experiência limite/ Marion Brepohl de Magalhães.
Livro: Maus-Art Spirgelman, pode ser encontrado online no site da lelivros.
Livro: Irmãs em Auschwitz- Rena Kornreich Gelissen - lelivros.